Em depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), o tenente-coronel Mauro Cid afirmou ter presenciado o ex-ministro da Defesa e ex-candidato a vice-presidente, general Braga Netto, entregando dinheiro vivo em uma embalagem para guardar vinhos, como parte do financiamento do golpe denominado “Punhal Verde e Amarelo”.
A coluna apurou que os recursos foram entregues ao grupo conhecido como “Kids Pretos” — militares especializados em operações especiais — durante um encontro em uma das residências oficiais da Presidência da República. As informações foram confirmadas por duas fontes ligadas à investigação.
Procurada, a defesa de Mauro Cid não se manifestou. A coluna também tenta contato com a defesa do general Braga Netto. Cid prestou novo depoimento à Polícia Federal nesta quinta-feira (5).
Nos depoimentos mais recentes, Cid afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) recebia informes diários de Braga Netto sobre o andamento do plano dos “Kids Pretos”. O plano visava impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022, além de contemplar o assassinato de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes.
Entretanto, Cid alega que não tinha conhecimento sobre a parte do plano que envolvia os assassinatos.
O golpe, idealizado por militares, estava previsto para ser consumado no dia 15 de dezembro de 2022. O advogado de Cid, Cezar Bitencourt, afirmou em entrevista ao programa Estúdio I, da TV Globo, que Bolsonaro tinha total conhecimento sobre o plano. “Sabia, sim, na verdade o presidente de então sabia tudo. Na verdade, comandava essa organização”, declarou. No entanto, o advogado posteriormente recuou de suas declarações.
Após seu depoimento a Moraes, Cid conseguiu manter os benefícios de seu acordo de colaboração premiada com a PF, mesmo após a Polícia Federal ter solicitado a rescisão do acordo, devido à omissão de informações sobre o financiamento do golpe. Durante depoimento à PF na Operação Contragolpe, em 19 de novembro, Cid não mencionou a entrega do dinheiro por Braga Netto. Foi somente dois dias depois, em 21 de novembro, que ele fez referência a essa informação no STF, o que levou à manutenção do pedido de rescisão por parte da PF.
A investigação revelou que a reunião que deu início ao plano de assassinatos aconteceu na residência de Braga Netto, em novembro de 2022, com a participação de Cid e de militares do grupo “Kids Pretos”. A PF identificou que ao menos seis militares se posicionaram em pontos estratégicos de Brasília para capturar Moraes no dia 15 de dezembro de 2022.
Após o depoimento, o ministro Alexandre de Moraes decidiu desconsiderar o pedido da Polícia Federal e manteve os benefícios da colaboração premiada para Mauro Cid. Embora tenha sido preso duas vezes em investigações da PF, Cid está em liberdade desde maio.
Fonte: ICL Notícias